Quando ficamos sabendo que uma mulher acaba de ter um filho, imaginamos que ela esteja radiante, em estado de total felicidade, certo? Isso porque nos acostumamos a associar a maternidade apenas a sentimentos positivos, às boas experiências, aos encantos, à realização de um sonho. Porém, hoje sabemos que “maternar” não se resume a isso.
O debate sobre essa romantização da maternidade tem ganhado espaço, e cada vez mais mulheres têm compartilhado relatos da sua experiência, muitos deles, contradizendo o suposto mar de rosas que seria a maternidade, especialmente no começo.
A começar pelas alterações hormonais pós-parto 1, que facilmente desencadeiam sensações de fragilidade, ansiedade, irritabilidade e até choros repentinos. Essa mudança brusca de humor é normal no puerpério – período que dura até 45 dias após o parto – e pode estar ligada também ao cansaço, à pressão de ser uma “supermãe” e à insegurança de ser responsável por uma vida2.
Tudo isso contribui para o surgimento de duas condições muito comuns, mas pouco discutidas ainda: a “Baby Blues” ou da mais conhecida depressão pós-parto, condições relacionadas, mas distintas entre si. Vamos entender melhor as diferenças entre elas.
O que é Baby Blues e por que ela acontece?
O termo em inglês “Baby Blues” está associado à tristeza e melancolia que a mãe sente após o bebê nascer 3 (PDF 4.6MB), podendo se manifestar logo no dia seguinte ao nascimento devido às alterações hormonais causadas pelo parto.
Sintomas do Baby Blues
- Preocupação em excesso com o bebê;
- Vontade constante de chorar;
- Baixa autoestima;
- Sensibilidade emocional exacerbada;
- Bruscas mudanças de humor;
- Dificuldade de concentração;
- Ansiedade;
- Alterações do sono;
- Irritabilidade;
- Indisposição;
- Insegurança;
- Impaciência.
O Baby Blues, também conhecido como tristeza puerperal, costuma durar de 10 a 15 dias e tende a desaparecer naturalmente 4, sem o auxílio de tratamento.
No entanto, é importante que a mulher descanse, tenha uma boa alimentação e receba apoio para compartilhar os próprios sentimentos 5,6, que podem parecer confusos durante o período.
E a depressão pós-parto?
A depressão pós-parto (DPP), por outro lado, é caracterizada por sintomas mais intensos, persistentes7 e, diferentemente do Baby Blues, permite apenas raríssimos momentos de felicidade na vida da mulher. A DPP acomete entre 10% e 20% das mães, pode começar ainda na gestação 6(por isso tem sido chamada de “depressão perinatal”), logo após o parto e até mesmo meses depois, e sua duração pode variar de uma mulher para outra.
O quadro é influenciado não somente por um histórico familiar ou próprio de depressão 8, mas também por uma gravidez indesejada, estresse, ausência do(a) companheiro(a) e vários outros problemas pessoais.
A relação com o bebê 5 também pode ser prejudicada, além de ser comum querer se afastar de outras pessoas e, em casos mais graves, tenha pensamentos suicidas.
Vale mencionar que a quantidade de gestações não afeta as chances de desenvolvimento da depressão pós-parto 8, ou seja, a condição não atinge apenas as mães de primeira viagem.
Sintomas da depressão pós-parto
- Dificuldade de se envolver emocionalmente com o bebê;
- Falta de higiene consigo e com o bebê;
- Pensamentos relacionados a prejudicar a si mesma ou ao bebê;
- Fadiga intensa;
- Insônia ou excesso de sono;
- Sentimentos de culpa e vergonha;
- Ansiedade extrema;
- Alterações no apetite;
Tratando a depressão pós-parto
É essencial que a família esteja atenta aos sinais da doença para intervir se necessário e evitar que a mãe se isole ainda mais com o bebê – ele também sente, podendo apresentar um temperamento irritado, chorar mais e ter problemas para se alimentar.
Sendo assim, o apoio emocional à mãe é uma condição essencial para sua melhora. Ela precisa entender que está tudo bem não se sentir 100% feliz com as mudanças que um nascimento traz, mas, se isso se agravar, um tratamento adequado deve ser iniciado o quanto antes com acompanhamento profissional, pois a Depressão Pós Parto tem cura, mas pode requerer sessões de psicoterapia e medicação 8, que depende do histórico psiquiátrico da mulher e do estágio em que está a amamentação.
Outra orientação comum é a entrada em grupos de suporte com outras mulheres que estejam passando pela mesma experiência. Lembre-se de que o apoio é essencial nesse momento.
O que pode ser feito para ajudar as mamães?
- Não julgue suas atitudes
- Esteja sempre disposto a ouvir o que ela tem a dizer
- Contribua com as tarefas do dia a dia
- Cuide do bebê para que ela possa descansar e cuidar dela mesma
- Fique atento à evolução dos sintomas
- Se achar que a mãe ou o bebê estão em risco, consulte um médico imediatamente
O Baby Blues e a Depressão pós-parto são condições complexas, especialmente a DPP. Por isso, o acompanhamento de um profissional, como um terapeuta perinatal ou psiquiatra deve ser considerado. Se você faz parte da rede de apoio, fique atento aos sinais e esteja sempre disposto a ouvir e oferecer o suporte necessário à mãe e ao bebê.
Referências
- RUSCHI, Gustavo Enrico Cabral; MATTAR, Rosiane; FILHO, Antônio Chambô; ZANDONADE, Eliana; DE LIMA, Valmir José. Aspectos epidemiológicos da depressão pós-parto em amostra brasileira.Rev Psiquiatr RS. 2007;29(3):274-280.
- Postpartum depression. https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/postpartum-depression/symptoms-causes/syc-20376617. (acesso em setembro/2022)
- Ministério da saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de ações programáticas estratégicas. Pré-natal e puerpério, atenção qualificada e humanizada.manual técnico. Brasília – DF, 2006. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_pre_natal_puerperio_3ed.pdf (PDF 4.6MB) Acesso em 29 ago. 2022.
- Pediatria para famílias. Sociedade Brasileira de Pediatria. Depressão pós-parto. Departamento Científico de Aleitamento Materno. Disponível em https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/depressao-pos-parto/ Acesso em 29 ago. 2022.
- Schmidt, eluisa bordin; piccoloto, neri maurício; müller, marisa campio. Depressão pós-parto: fatores de risco e repercussões no desenvolvimento infantil. Psico-usf, 2005; 10 (1): 61-68.
- Blog Saúde em Destaque, por Hospital Santa Clara. Qual a diferença entre baby blues e depressão pós-parto? Maio 14, 2021. Disponível em https://hospitalsantaclara.com.br/qual-a-diferenca-entre-baby-blues-e-depressao-pos-parto/ Acesso em 29 ago. 2022
- Blog amor à vida, por Hospital Anchieta. Depressão pós-parto: conheça as suas principais causas, sintomas e como se cuidar. 20 de junho de 2021. Disponível em https://www.hospitalanchieta.com.br/depressao-pos-parto-conheca-as-suas-principais-causas-sintomas-e-como-se-cuidar/ Acesso em 29 ago. 2022
- Secretaria de Estado de Saúde. Governo do Estado de Goiás. Depressão Pós-Parto. Publicado: 21 Novembro 2019. Última Atualização: 21 Novembro 2019. Disponível em https://www.saude.go.gov.br/biblioteca/7594-depress%C3%A3o-p%C3%B3s-parto Acesso 29 ago. 2022.