Até que o processo esteja completo, as fases da cicatrização de feridas contemplam o estágio inflamatório, seguido das etapas proliferativas e de maturação – quando a cicatrização começa efetivamente – e remodelamento1. Ao longo de toda a recuperação, uma série de fatores locais e sistêmicos podem afetar a forma como a ferida evolui.
Tudo isso leva em conta que o processo de cicatrização de feridas se dá por meio do ordenamento de uma série de eventos, garantindo que o tecido seja reparado adequadamente. Independentemente do que causou a ferida, a evolução tende a se dar sempre da mesma forma2, embora complicações possam comprometer a cicatrização.
Fase inflamatória
Nos primeiros momentos após a lesão que provoca a ferida, o organismo responde contraindo os vasos sanguíneos por meio da liberação de substâncias vasoconstritoras1,2. Além disso, componentes do sangue (como as plaquetas), desencadeiam a cascata de coagulação do sangue1,2.
A partir do coágulo, a rede de fibrina formada pelas plaquetas estabelece uma barreira em torno da ferida, protegendo a área e garantindo o ambiente necessário para a migração de células essenciais ao processo de cicatrização2.
Em até 24 horas após o trauma, os neutrófilos (células do sistema imunológico) ocupam a região lesionada1,2. Os neutrófilos contribuem com a destruição bacteriana na ferida, bem como com o processo de desbridamento dos fragmentos de tecido morto da região. Além de muito rápida, a atividade dos neutrófilos gera sinais inflamatórios na ferida, como vermelhidão e dor1.
Esse processo será complementado depois pelos macrófagos, que migram para a ferida entre 48 e 96 horas após a lesão2. Ademais, os macrófagos liberam uma série de componentes (como citocinas e fatores de crescimento) que tornam os vasos sanguíneos da área mais permeáveis e ajudam na evolução até a fase proliferativa do processo de cicatrização2.
Fase proliferativa
Em média, a fase proliferativa da cicatrização de uma ferida tem início cerca de 4 dias após a lesão que causou o ferimento e prossegue, mais ou menos, até o 14º dia de recuperação1,2. Dentro dessa fase, a lesão passa por etapas essenciais para a recomposição do tecido danificado2:
- Epitelização, que ocorre precocemente se não houver danos às células basais que compõem a camada inferior da pele. Desse modo, as células epiteliais restauram a epiderme.
- Angiogênese, que promove a formação de novos capilares sanguíneos na área afetada, garantindo a sua vascularização.
- Formação de tecido de granulação, que tem como principal destaque a atuação dos fibroblastos, células capazes de sintetizar novos tecidos. Eles vêm de regiões próximas do organismo e depois de estimulados por fatores de crescimento produzem colágeno e promovem a contração da ferida.
No fim da fase proliferativa, a ferida passa pelo chamado processo de deposição de colágeno, que também marca o início do estágio de maturação e remodelamento do machucado.
Fase de maturação e remodelamento
A terceira fase da cicatrização consiste na remodelação, que se inicia duas a três semanas após o aparecimento da lesão e pode durar um ano ou mais.1 Nessa fase, o colágeno começa a ser depositado de forma ordenada, garantindo o fechamento da ferida. Contudo, o colágeno produzido no início do processo de cicatrização é mais fino e tem ordenação diferente daquele natural da pele. Com o tempo, esse colágeno é reabsorvido e dá origem a outro mais espesso2.
Dessa forma, essa é uma etapa fundamental na cicatrização adequada: ela alcança o sucesso esperado quando há um equilíbrio entre a síntese da nova matriz e lise da matriz antiga. Entretanto, a ferida continuará apresentando um colágeno menos organizado do que o da pele saudável2. Além disso, a força tênsil da área cicatrizada jamais retornará a 100%, alcançando cerca de 80% após três meses2,4.
Fatores que podem influenciar as fases da cicatrização de feridas
Em muitos casos, as fases da cicatrização das feridas não se darão de forma ordenada conforme esperado. Ou seja, uma série de aspectos pode influenciar nos mecanismos envolvidos no fechamento da lesão. De forma geral, esses fatores podem ser classificados com locais ou sistêmicos3.
Entre os fatores locais capazes de interferir no curso de cicatrização da ferida estão desequilíbrios na oxigenação (isso porque muitos processos dependem da quantidade adequada de oxigênio para acontecer) e infecções causadas por microrganismos que se proliferam na lesão3.
Em relação aos aspectos sistêmicos capazes de interferir na cicatrização estão a idade do paciente, obesidade, a nutrição, a atuação de determinados hormônios, o nível de estresse, doenças (como o diabetes, por exemplo), o uso de determinadas medicações, tabagismo e o imunocomprometimento (causado por enfermidades ou devido a determinados tratamentos)3.
Portanto, ao longo de todo o processo de cicatrização, o profissional responsável pelo acompanhamento pode lançar mão de alguns recursos para acompanhar a evolução da condição2. Entre os mais utilizados estão a tensiometria, a densitometria e a morfometria do colágeno, a imunoistoquímica e a dosagem de fatores de crescimento2. No mais, feridas por causas específicas (como úlceras por pressão, por exemplo), podem ter instrumentos e escalas próprias para avaliar a progressão da cicatrização5.
A sequência de fases da cicatrização de feridas é um fenômeno complexo, que sofre influência de diferentes processos fisiológicos. Por isso, a evolução na recuperação deve ser acompanhada com cuidado, inclusive para prevenir complicações que possam atrapalhar a recomposição do tecido danificado.
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Referências
- Gonzalez AC, Costa TF, Andrade ZA, Medrado AR. Wound healing – A literature review. An Bras Dermatol. 2016 Sep-Oct;91(5):614-620.
- Campos, ACL; Borges-Branco, A; Groth, AK. Cicatrização de feridas. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo), v. 20, p. 51-58, 2007.
- Guo S, Dipietro LA. Factors affecting wound healing. J Dent Res. 2010 Mar;89(3):219-29.
- Broughton G, 2nd, Janis JE, Attinger CE. Wound healing: an overview. Plast Reconstr Surg 2006; 117(7 Suppl):1e-S-32e-S.
- Garbuio, DC et al. Instrumentos para avaliação da cicatrização de lesões de pele: revisão integrativa. Eletr. Enferm. 31º de dezembro de 2018;20:v20a40.