Será que estamos preparando os lanches da escola de nossos filhos da maneira correta? Segundo um estudo inédito, feito no Brasil, parece que não.
Dados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019) mostram que oito em cada dez crianças brasileiras de até 5 anos consomem alimentos ultraprocessados, como biscoitos, bolachas recheadas, farinhas e macarrão instantâneo, pipoca de micro-ondas, embutidos (salsicha, mortadela etc.), refrigerantes e bebidas açucaradas (sucos artificiais), entre outros produtos nocivos à saúde.
As informações coletadas ainda mostraram que essa prática é comum, inclusive entre bebês menores de 2 anos. Isso é importante porque sabemos que a má alimentação desde cedo pode trazer consequências ao longo de toda a vida da criança, como obesidade, diabetes e até problemas cardiovasculares.1
Esse estudo também mostrou que, além do consumo de ultraprocessados, existe baixa ingestão de frutas, legumes e hortaliças, que deveriam compor a base da alimentação infantil, porque esse consumo comprovadamente melhora a saúde de nossas crianças.
Outro dado que chamou bastante atenção dos pesquisadores é que o consumo de água pura entre crianças de até 5 anos no dia anterior à entrevista foi de somente 72%. Isso significa que de cada dez crianças, três não tomaram água, mas em seu lugar consumiram refrigerantes e sucos artificiais, erroneamente chamado de “suco de frutas”.1
Referências
Como podemos mudar esse quadro?
A resposta é simples: vamos criar bons hábitos alimentares, e isso não é difícil de fazer. Veja algumas dicas.² Sabemos que o hábito alimentar começa na infância e as preferências alimentares (saudáveis) das crianças e adolescentes farão deles adultos que terão certamente uma melhor qualidade de vida. Sempre lembrando: o exemplo começa com os adultos dentro de casa. Devemos respeitar o apetite da criança, que é variável e vai depender de vários fatores, como idade, atividade física, condição física e psíquica, refeição anterior e temperatura ambiente, mas regras e limites também devem fazer parte desse quadro. Com um dado importante, nessa faixa etária a preferência pelo doce se sobrepõe, ele é natural do ser humano, em sua grande maioria. Outro fato importante: sem recompensas e sem castigos quando a criança comer ou não comer, respectivamente. Sem brigas, sem forçar, sem traumas! É fundamental ter rotina, disciplina e horários predeterminados para criar uma rotina alimentar.²Como montar um lanche escolar saudável?
Seguindo a orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), veja as principais dicas para um lanche saudável para as crianças (PDF-765kb).2Não pode faltar nas lancheiras escolares
- Um líquido: para repor as perdas nas atividades físicas, que também devem ser prioridade: água, água de coco, suco de frutas feito em casa (sem adoçar), por exemplo, limonada, suco de laranja, abacaxi, melancia, dando preferências para as frutas da época. É importante acondicionar o líquido em uma garrafa térmica para que se mantenha fresco.2
- Uma fruta: frutas práticas para consumir com casca ou cuja casca pode ser retirada com facilidade (maçã, banana, pera, morango, uva). Sempre dando preferência a frutas da época.2
- Um tipo de carboidrato: para fornecer energia. Pães (integral, forma, sírio), bolachas sem recheio, bolos caseiros. Cuidado com a quantidade, pois é apenas parte do lanche.2
- Um tipo de proteína: proteínas lácteas: patês ricos em ômega 3, como patê de atum, frango desfiado,³ queijos, requeijões, iogurtes (somente se for possível manter em temperatura adequada).2
Dicas da SBP para conservar o lanche da escola
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, para conversar o lanche da escola, você deve:2- Deixar os alimentos longe dos outros materiais que as crianças levam para a escola.
- Para que o aroma do sanduíche não interfira no gosto da fruta, guardar tudo separado e bem embalado.
- Enviar as frutas já lavadas e secas, se possível e necessário, já picadinhas. O uso de um boleador para fazer bolinhas das frutas é muito lúdico e prático.
- Envolver o sanduíche em papel-filme.
- Sempre utilizar lancheiras de material térmico para manter a qualidade dos alimentos.
O que não deve estar presente nas lancheiras escolares?
Evite ao máximo acrescentar os alimentos abaixo nas lancheiras escolares:2- Snacks e salgadinhos de pacote.
- Refrigerantes, isotônicos, sucos artificiais.
- Frituras.
Seja um fiscal da saúde de seu filho
Empodere-se conhecendo como seria uma cantina saudável para escola do seu filho. O documento do Ministério da Saúde “Cantina das cantinas escolares saudáveis” você pode ler clicando aqui (PDF- 7,69mb).4Referências
- Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI) [homepage da internet]. ENANI 2019. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Gilberto Kac (coord. geral). Caracterização do uso de suplementos de micronutrientes entre crianças brasileiras menores de 5 anos. Documento eletrônico. Rio de Janeiro: UFRJ; 2022 [acesso em dez 2022]. Disponível em: https://enani.nutricao.ufrj.br/index.php/relatorios/.
- Weffort VRS, de Mello ED, Silva VR, Rocha HF, editores. Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Departamento Científico de Nutrologia. Lanche Saudável – Manual de orientação 2012 [acesso em dez 2022]. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/pdfs/Manual_Lanche_saudavel_04_08_2012.pdf (PDF-765kb).
- Nogueira de Almeida CA, Ribas Filho D, Philippi ST, Pimentel CVMB, Korkes HA, de Mello ED, et al. II Consensus of the Brazilian Nutrology Association on DHA recommendations during pregnancy, lactation and childhood. International Journal of Nutrology 2022;15(3).
- Ministério da Saúde Brasil. Manual das Cantinas Escolares Saudáveis. Promovendo a alimentação saudável [acesso em dez 2022]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_cantinas_escolares_saudaveis.pdf (PDF-7,69mb).