O tratamento de úlcera varicosa é feito em diversas frentes e demanda a resolução ou atenuação do comprometimento venoso do membro inferior, o tratamento local da úlcera (com limpeza, desbridamento e colocação de curativos para controle de infecção e aceleração do processo de cicatrização) e a prevenção de recidivas^1,2. Além disso, podem ser adotadas medidas complementares para minimizar o desconforto e ajudar na recuperação².

As úlceras varicosas são o tipo mais comum de úlcera do membro inferior³, atinge com maior frequência pessoas acima dos 60 anos e têm alto grau de reincidência^.3. Em geral, elas não são profundas, tem a borda bem demarcada⁴ e quase sempre estão localizadas abaixo do joelho.⁴ A secreção de líquidos costuma ser intensa. Sem a presença de tecido necrosado, o leito da ferida é avermelhado.⁴

O surgimento de uma úlcera varicosa é, na maioria dos casos, resultado do estado mais avançado de uma condição chamada de insuficiência venosa crônica.⁵ Pacientes com essa condição sofrem anormalidades na circulação sanguínea, sobretudo nas pernas.⁶ O desenvolvimento de uma úlcera traz impactos para a qualidade de vida e pode gerar complicações, principalmente quando há infecção da ferida.

Como esse problema surge?

O sistema venoso dos membros inferiores conta com várias estruturas para manter a pressão sanguínea capaz de fazer o sangue circular.⁷ Desse modo, quando o indivíduo está em pé, mecanismos adicionais são acionados para que o sangue das pernas consiga subir de volta em direção ao coração. Nesse processo, as válvulas venosas e a bomba músculo-venosa da panturrilha evitam o fluxo retrógrado do sangue e o direciona corretamente para o coração.⁷

Por outro lado, disfunção nas válvulas, obstrução das veias e falha no bombeamento a partir da panturrilha podem fazer com que o sangue tenha mais dificuldade em subir, aumentando a pressão na região de forma sustentada.⁷ Com o tempo, o sangue pode dilatar progressivamente os vasos, fazendo com eles extravasem fluido em direção à pele.³ Assim, se formam as varizes que, posteriormente, podem se transformar nas úlceras varicosas.⁸ Entre os fatores de risco para esse problema estão:³

• Histórico de cirurgia para remoção de varizes ou de trombose venosa profunda.
• Permanência por longos período sentado ou em pé.
• Trauma grave nas pernas.
• Alterações congênitas nas veias da perna.
• Alterações tumorais que obstruem o fluxo sanguíneo.
• Condições relacionadas à trombose.

A queixa inicial da maioria dos pacientes nessa condição é a formação de um edema, que se desenvolve de forma insidiosa.⁴ Desse modo, é comum que se agrave durante o dia, quando a pessoa passa mais tempo em pé.⁴ A partir disso, a úlcera pode surgir de forma espontânea a partir da evolução do edema ou devido à traumas.⁴

Quais os cuidados necessários no tratamento para úlcera varicosa?

Como já mencionado, o tratamento da úlcera varicosa é feito com várias abordagens. Portanto, em um primeiro momento, é preciso agir para reduzir a hipertensão venosa, minimizando o edema nos membros inferiores.^{1, 2}

Para isso, podem ser usadas terapias compressivas com meias de compressão, ataduras, deambulação (ou seja, caminhadas e exercícios que favoreçam a circulação) e elevação da perna.^1,2 Vale reforçar que a correção da doença venosa de base atrelada ao problema deve ser feita assim que possível.²

Adicionalmente à terapia compressiva, o tratamento deve contemplar o cuidado com o local da úlcera. Isso envolve a limpeza, o desbridamento e a manutenção de curativos que minimizem o risco de infecção e favoreçam a cicatrização.²

Os métodos de desbridamento mais utilizados no manejo das úlceras varicosas são o autolítico, o cirúrgico e o enzimático². Neste último, pode ser utilizada a pomada colagenase para degradar as fibras de colágeno do tecido necrótico, removendo o tecido morto de forma adequada e contribuindo assim para o progresso da cicatrização⁹. No mais, o médico responsável pelo acompanhamento pode prescrever medicamentos que contribuam com o processo de fechamento da ferida.²

Por fim, é importante que o paciente seja orientado sobre sua condição, bem como a respeito dos cuidados necessários com o curativo e as formas de reduzir o risco de novas complicações associadas às úlceras venosas.¹ Entre algumas recomendações adicionais estão a prática de exercícios físicos, o controle do peso e o manejo de doenças de base.¹ Dessa forma, o tratamento da úlcera varicosa contribui não só para a recuperação como para prevenir que o problema se repita no futuro.

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Referências

1. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Feridas Crônicas. Tratamento da úlcera venosa. Disponível em: <http://eerp.usp.br/feridascronicas/recurso_educacional_uv_6.html>. Acesso em: 20 jun 2023a.
2. Abbade LPF, Frade MAC, Pegas JRP, Dadalti‐Granja P, Garcia LC, Bueno Filho R, Parenti CEF. Consensus on the diagnosis and management of chronic leg ulcers ‐ Brazilian Society of Dermatology. An Bras Dermatol. 2020;95:1–18.
3. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Feridas Crônicas. Causas da úlcera venosa. Disponível em: <http://eerp.usp.br/feridascronicas/recurso_educacional_uv_3.html>. Acesso em: 20 jun 2023b.
4. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Feridas Crônicas. Aspectos clínicos da úlcera venosa. Disponível em: <http://eerp.usp.br/feridascronicas/recurso_educacional_uv_4.html>. Acesso em: 20 jun 2023.
5. Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Úlcera Venosa. Disponível em: <https://sbacvsp.com.br/ulcera-venosa/>. Acesso em 20 de junho de 2023.
6. Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Projeto Diretrizes SBACV. Insuficiência Venosa Crônica: Diagnóstico e Tratamento. 2015. Disponível em: <https://sbacvsp.com.br/wp-content/uploads/2016/05/insuficiencia-venosa-cronica.pdf>. Acesso em 20 de junho de 2023
7. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto. Feridas Crônicas. Anatomia da úlcera venosa. Disponível em: <http://eerp.usp.br/feridascronicas/recurso_educacional_uv_2.html>. Acesso em: 20 jun 2023c.
8. Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde. Varizes. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/varizes/>. Acesso em: 20 jun 2023.
9. Associação Brasileira de Estomaterapia. Guia de Boas Práticas – Preparo do Leito da Lesão: Desbridamento. Disponível em: <https://sobest.com.br/wp-content/uploads/2020/10/Preparo-do-leito-da-ferida_SOBEST-e-URGO-2016.pdf>. Acesso em 19 de junho de 2023.