Ao longo de toda a jornada de suporte ao paciente, o responsável pelo cuidado pode se deparar com situações em que a boa evolução do tratamento de uma ferida depende do chamado desbridamento1, essencial para que o leito da ferida tenha condições de induzir o processo de reparação do tecido danificado1.
Ou seja, em determinados momentos é necessário que haja a remoção do tecido necrosado para que o tratamento evolua. Sem isso, o tecido inviável acumulado na ferida, além de atrasar a cicatrização, favorece um ambiente propício para o desenvolvimento de infecções e prolonga a resposta inflamatória2. A partir disso, as técnicas de limpeza e desbridamento de feridas mais utilizadas envolvem o uso de recursos autolíticos, biológicos, enzimáticos, mecânicos ou cirurgicos1. Saiba mais sobre elas!
Quais as etapas das diferentes técnicas de desbridamento de feridas?
O processo de desbridamento deve ser conduzido de acordo com o estágio de evolução da ferida. Desse modo, é possível abrir caminho para a correta cicatrização da lesão e a prevenção de uma série de complicações. A partir disso, as principais etapas dos diferentes tipos de desbridamento são:
· Desbridamento inicial
Garante a remoção de tecidos inviáveis no leito e na área ao redor da ferida. Essa etapa é diferente do ato de limpeza, onde são retiradas sujidades e outros resíduos soltos. Diferentes métodos podem ser usados, conforme descrito mais à frente neste artigo 1,3-6.
· Desbridamento de manutenção
Permite a remoção constante da carga celular (fibroblastos envelhecidos, queratinócitos e materiais de matriz celular, em geral não visíveis a olho), que podem comprometer a cicatrização 1,4-6.
· Desbridamento de hiperqueratose
A hiperqueratose forma-se devido ao acúmulo de células produtoras de queratina em determinadas lesões. Isso provoca o aumento da espessura da pele. Nesses casos, é preciso aplicar um emoliente e remover o tecido acumulado 1,6,9.
Adaptado de: Associação Brasileira de Estomaterapia. Guia de Boas Práticas – Preparo do Leito da Lesão: Desbridamento. Disponível em: <https://sobest.com.br/wp-content/uploads/2020/10/Preparo-do-leito-da-ferida_SOBEST-e-URGO-2016.pdf>. Acesso em 19 de junho de 2023.
Quais as principais técnicas de limpeza e desbridamento de feridas?
Identificada a necessidade de desbridamento, é preciso também escolher o método adequado para tal fim. Logo, a decisão por qualquer uma das opções passa pela avaliação do tipo de material presente no leito da ferida, a habilidade do profissional, a presença de dor e as preferências do paciente, ampliando a aceitação e o sucesso da intervenção6,8.
● Desbridamento autolítico
Nesse método, a degradação do tecido necrótico é feita pelas próprias enzimas e células (macrófagos) presentes no leito da ferida 1,5,6,8. Para isso, o processo de desbridamento autolítico envolve condições apropriadas para a atividade dessas enzimas e células. As principais recomendações dizem respeito à manutenção de um meio úmido e a estabilização da temperatura da região acima dos 37° C.1
Entre as vantagens desse método estão a segurança e a seletividade. Por outro lado, pode haver aumento do odor, crescimento bacteriano e vazamento nas bordas da lesão. Além disso, em caso de infecção nas feridas, o método só pode ser utilizado mediante controle do quadro infeccioso8,9. No mais, ele pode ser associado ao método de desbridamento mecânico, facilitando a remoção dos tecidos inviáveis.8
● Desbridamento biológico
O desbridamento biológico consiste no uso de larvas vivas esterilizadas (em geral proveniente de moscas da espécie Lucilia sericata) no leito da ferida. Como consequência, as larvas secretam enzimas que liquefazem o tecido necrótico. Em seguida, eles digerem que sobrou do tecido, limpando o leito da ferida.1,10
O procedimento pode ser indicado diante da necessidade de um desbridamento rápido e na presença de sinais de granulação. Ademais, o método biológico pode ser usado quando há contraindicação para desbridamento cirúrgico, por exemplo.10
● Desbridamento enzimático
Em tese, o princípio de funcionamento do método de desbridamento enzimático é similar àquele do autolítico.1 Todavia, nesses casos a enzima responsável pela degradação do tecido é exterior ao organismo do paciente.1 A colagenase é uma substância muito utilizada no desbridamento enzimático. Ela age a partir da decomposição das fibras de colágeno que fixam o tecido necrótico ao leito da lesão. 1,8,9
Contudo, como o pH da pele da ferida pode alterar a atuação da enzima, é preciso levar em conta esse aspecto. Uma recomendação diante da dificuldade em avaliar tal fator é escolher uma enzima capaz de atuar em tecidos com diferentes pHs.8,9 Além disso, a presença de determinados metais, de alguns antibióticos e de certos produtos de limpeza pode prejudicar o resultado.1
● Desbridamento mecânico
Como o próprio nome indica, esse método utiliza diferentes ações mecânicas para remover o tecido inviável. Uma desvantagem significativa desse método é sua baixa especificidade. Ou seja, tecidos viáveis podem ser removidos junto.1
Entre os recursos mais utilizados para isso estão a fricção (utilizando gazes ou esponjas com soluções de limpeza), a irrigação (com um jato de soro morno) e a hidroterapia (com tanques de turbilhonamento).1 Outra forma de realizar o desbridamento mecânico é aplicando uma gaze seca sobre a ferida até que ela fique aderida ao leito para então retirá-la.1
● Desbridamento instrumental/cirúrgico
Realizado exclusivamente por médicos e enfermeiros, o desbridamento instrumental ou cirúrgico depende de utensílios como bisturis e tesouras para a remoção do tecido necrótico. 1,3,5,8 Assim, diante do risco maior de complicações, o sucesso depende da capacitação dos profissionais e uma avaliação adequada da escolha do método.3,5.8
Sem isso, o paciente pode sofrer com lesões nos tendões e nos ossos e até mesmo hemorragias1. Portanto, pacientes com risco de coagulopatia e insuficiência arterial não devem ser submetidos à tal forma de desbridamento.1
Em resumo, a correta aplicação das diferentes técnicas de limpeza e desbridamento de feridas contribui consideravelmente com a evolução até a total cicatrização do tecido afetado. Por isso, dentro da sua competência, o profissional responsável pelo acompanhamento deve avaliar a condição para decidir o melhor método, dentre aqueles disponíveis.1
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Referências
- Associação Brasileira de Estomaterapia. Guia de Boas Práticas – Preparo do Leito da Lesão: Desbridamento. Disponível em: <https://sobest.com.br/wp-content/uploads/2020/10/Preparo-do-leito-da-ferida_SOBEST-e-URGO-2016.pdf>. Acesso em 19 de junho de 2023.
- South West Regional Wound Care Program. Guideline and Procedures: Wound Debridement. Disponível em:<https://swrwoundcareprogram.ca/Uploads/ContentDocuments/WoundDebridement.pdf[PDF-468kb]> Acesso em junho de 2023.
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